OS HÓSPEDES
Normalice Souza
Os hóspedes se foram Sem despedidas, sem obrigados, sem dar qualquer sinal de que
não os encontraria ao amanhecer. Acordei e abri as cortinas com muito cuidado
para não assustá-los, como de hábito nos últimos dias, espiei para ver como
estavam e constatei que o ninho estava vazio. Pois é, eu tive o prazer de ter
um ninho de assanhaço (ou será sanhaço? verificarei, talvez um dia, em algum
compendio - puxa vida, que palavra-) Vi nascer os primeiros sinais desta bela
residência, acompanhei a sua construção, coloquei água e comida
estrategicamente próximas à morada, cuidei em fechar as cortinas ao cair da
tarde para não incomodar com a claridade os habitantes do anexo ao meu quarto,
melhor dizendo, na jardineira da janela. Ouvi encantada os primeiros ruídos dos
novos moradores, a agitação quando a mãe chegava com a comida, e esperei
ansiosa os ensaios de voo. A observação era feita com muita discrição com
receio que a minha presença ostensiva os assustasse e os fizesse fugir. Na
verdade a mãe já se acostumara, mais ou menos, com a minha presença, mas temia
o medo dos pequenos. Fiquei, assim, acompanhando o que eu pensava seria o
desenvolvimento da família, mas eles me deram um baile. Não tive a sorte de ver
os ensaios de voos que me preparassem para a partida iminente e por isso fui
pegada de surpresa e de alguma forma sinto-me um pouco traída. Com o meu
sentimento de abandono verifico, mais uma vez, que nada na vida é completamente
desinteressado e que a minha calorosa receptividade de alguma forma esperava
uma recompensa. Pelo menos desejava vê-los crescer, ora essa! Madrinha auto eleita,
e abandonada, contento-me agora em olhar o ninho vazio na esperança que alguma
outra passarinha aproveite a
residência já pronta e desocupada e venha fazer-me um pouco de companhia; nem
que seja por poucos dias.
Ando pensando
em colocar um anúncio no jasmineiro:
CEDE-SE ESPAÇO PARA CONSTRUÇÃO
DE NINHOS.
ÁGUA E ALIMENTO GRÁTIS.
SILÊNCIO E SEGURANÇA GARANTIDOS.
Quem
se habilita?
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